Por Ivan Ruela
Com mais de duas décadas de estrada, o Detonautas, formado inusitadamente num ambiente virtual de internet, é hoje uma das maiores bandas de rock do Brasil.
Tendo em sua formação atual, Tico Santa Cruz,Renato Rocha, Fábio Brasil, Phil Machado e André Macca , o grupo está com a turnê comemorativa de 20 anos do álbum Acústico, além de shows esporádicos no formato convencional (elétrico), em vários cantos do país.
A banda se apresentará nesta sexta-feira (26), em Aimorés — frente ao Lorena Clube, a partir das 22h, durante um evento de motociclismo, na feira gastronômica do município.
O vocalista Tico Santa Cruz bateu um papo com nós, prometendo muita energia e satisfação de se apresentar na cidade.
O músico também falou da sua admiração por Sebastião Salgado e do atual cenário do rock no Brasil.
É a primeira vez da banda carioca em Aimorés, que teve como último show de rock nacional há nove anos— o Jota Quest, na festa do centenário municipal.
Vocês talvez, ao lado do Biquíni Cavadão, são as bandas de rock nacional que mais se apresentam no interior do país. O que os motiva a levar o rock para cidades com públicos tão diversos, como Aimorés ( há muitos fãs da banda na cidade), onde a música sertaneja predomina?
O Detonautas é uma banda que na sua história sempre contemplou o público dos mais diversos lugares. A gente gosta do Brasil, a gente gosta de viajar pelo interior do país, de conhecer as cidades e os públicos dos mais variados. Temos sim uma abertura muito grande nestes eventos, que acabam reunindo uma diversidade muito legal que nos deu a capacidade de fazer a leitura de tornar o repertório da banda bastante popular. Então para nós é uma satisfação enorme poder tocar em Aimorés. Minas Gerais é um ‘país’, um local abastado de gente e de cidades, daí temos um público enorme . Então é uma satisfação tocar para essas pessoas, independente do gênero musical, pois todo mundo gosta de ouvir uma boa música.
Com o sucesso do show de vocês, acredita que essa iniciativa pode abrir portas para que outras bandas de rock também se apresentem na cidade, fomentando um cenário musical mais plural em Aimorés?
Acredito fielmente que a experiência com o rock abre portas para outras bandas, e para a cena local, que muitas vezes fica oculta por falta de espaço. Essa lacuna pode despertar o interesse de outras pessoas, e bandas como o Biquíni Cavadão, que também possui essa característica, são prova disso. No Brasil, existem diversos grupos talentosos que poderiam estar fazendo shows como o Detonautas, mas nem sempre têm as mesmas oportunidades. A passagem do Detonautas abre caminho para que bandas como CPM 22, Fresno e outros artistas populares do rock, que muitas vezes não conseguem acessar esses espaços, possam ter mais visibilidade no futuro. Torcemos para que esse leque se abra cada vez mais e que o público conheça ainda mais outras bandas de rock.
Aimorés se prepara para receber o Detonautas após 9 anos do último show de rock nacional—Jota Quest. Que mensagem vocês gostariam de deixar para os fãs da região que estão ansiosos para vê-los no palco?
O que eu tenho para dizer que a gente tá indo com uma energia incrível para poder fazer esse show. Amamos fazer isso, entregamos tudo que temos de melhor no palco. Então os fãs podem aguardar um repertório com os grandes hit’s do Detonautas. Também aproveitamos a oportunidade para tocar sucessos de outros artistas, isso traz pra gente uma uma variação de repertório muito boa, e a galera entra no coro, então sempre é muito divertido. Vai ser uma noite inesquecível, com certeza.
O Detonautas está em turnê comemorando os 20 anos do álbum acústico, com shows paralelos a ela. O que os fãs de Aimorés podem esperar, no que diz respeito a hits e formato de apresentação?
O “Detonautas Acústico 20 anos” é um projeto muito bonito, que faz uma ‘geralzona’ da carreira da banda, incluindo músicas que a gente nunca tocou nos shows, e que se configura muito muito bem quando a gente coloca no formato acústico. Isso fluiu tão bem que a gente pegou algumas dessas canções como aposta, por exemplo ,”Um cara de Sorte” e levou para para o show elétrico. Então, ainda que nós não estejamos nos apresentando com a turnê de 20 anos do acústico do Detonautas, em Aimorés, a gente leva músicas que são parte desse repertório, dando um gostinho para que a galera sinta-se aguçada a comparecer a uma apresentação dessa turnê, quando acontecer numa cidade mais próxima.
Como uma personalidade engajada que é, você sabia do projeto de recuperação ambiental —Instituto Terra, idealizado pelo fotógrafo Sebastião Salgado, em Aimorés? Cogita a hipótese de conhecer o local?
Eu conheço o trabalho de Sebastião Salgado, e acho que ele tem uma função extremamente importante nessa leitura da questão ambiental do Brasil. Não conheço ainda o Instituto Terra, onde provavelmente está sendo desenvolvido um trabalho incrível. Eu sou admirador da literatura fotográfica do Sebastião Salgado, e se eu tiver uma oportunidade, caso consigamos chegar a tempo, podemos tentar conhecer o projeto pessoalmente.
Temos tido em média, quatro shows por semana, tendo às vezes ter que escolher entre dormir ou comer, jantar ou almoçar, mas tendo um tempo eu procuro sempre fazer uma visita nos lugares importantes de cada cidade, e seria gratificante conhecer esse projeto do Sebastião, aí em Aimorés.
Como vocês avaliam o cenário do rock nacional atualmente? Acreditam que o gênero ainda tem força para conquistar novos públicos?
O cenário do rock atual é marcado por revisitações e resgates de repertórios clássicos, como podemos ver com Titãs, NX Zero e Forfun. Ao mesmo tempo, bandas como Detonautas, CPM 22 e Fresno se mantêm ativas e inovadoras, enquanto projetos empolgantes como o do Charlie Brown Jr. ganham vida. Novas bandas também despontam, como Black Pantera em Minas Gerais, dentre outros talentos, incluindo The Mönic (formada por mulheres em SP), Canto Cego (RJ), Banda Drenna (RJ), além da talentosa Giovanna Moraes (SP).
Embora a cena do rock esteja em constante movimento e renovação, alcançar a popularidade em massa, como em outros gêneros ou como já aconteceu com o rock em outras épocas, exige um trabalho árduo e persistente por parte de todos os envolvidos.
Nossa banda tem tido um público fiel, com média de 14 a 15 shows por mês, o que demonstra que o rock ainda tem seu espaço. Continuamos batalhando para manter viva a memória do rock e a dialogar com o público mais jovem, pois é ele quem oxigena o trabalho de todos nós.