Quem tem mais de 60 anos e vive na região de Colatina e Baixo Guandu, certamente terá muitas histórias para contar sobre o bucólico distrito de Itapina, que viveu durante cerca de 20 anos um período extraordinário, com movimento de causar inveja e uma economia de referência na região.
Pertencente ao município de Colatina e localizado também próximo a Baixo Guandu (25 kms), Itapina viveu entre os anos 1950 a 1970 uma realidade econômica de referência, com dezenas de casas comerciais, postos de combustíveis, coletoria, destacamento policial e um movimento fantástico em torno da produção e comércio de café.
Tudo facilitado pela linha férrea da estrada de ferro Vitória a Minas (hoje Vale), que garantia transporte diário de mercadorias e centenas de passageiros, com quatro horários diários de trens que ligavam à capital Vitória e dezenas de cidades de Minas Gerais.
Chamava a atenção no distrito, também, um hospital (Casa de Saúde Santa Marta), que reunia uma excelente equipe de médicos, espaço para 15 leitos e um centro cirúrgico moderno que atraía centenas de pacientes de toda região.
De Itapina partiam diariamente várias linhas de ônibus ligando o distrito a Itarana, Itaguaçu e Afonso Cláudio, num vai e vem frenético de centenas de pessoas que buscavam a localidade diariamente para compras, comercialização de produtos agrícolas ou tratamento médico.
A ponte
O progresso de Itapina levou o presidente Juscelino Kubitschek a decidir pela construção de uma ponte gigantesca que ligaria a sede até o Norte do rio Doce, prevendo a garantia de que a localidade estaria ligada a BR -259, naquela época já em projeto de pavimentação.
Acontece, porém, que Itapina passou a sofrer no final dos anos 1950 o início de um êxodo rural bem forte na região e o comércio entrou em declínio. As obras da ponte foram paralisadas por volta de 1965, sobrando hoje um enorme esqueleto da obra inacabada. O movimento nos anos 1970 já não era o mesmo e a partir dos anos 1980 a decadência mostrou em definitivo suas garras. Até a famosa Casa de Saúde Santa Marta fechou as portas e do prédio restam apenas as ruínas.
O que sobrou
Mas Itapina não deixa de ser encantadora nos duas atuais. O movimento comercial se estagnou em definitivo, mas sobrou um belo conjunto de casarios de quase um século, uma paisagem bucólica com belas imagens do rio Doce e o aconchego e a simpatia de menos de 800 moradores que insistem em ficar.
Há anos, na tentativa de não deixar Itapina cair no esquecimento, a gestão municipal de Colatina criou o festival de música Fé na Viola, que atrai anualmente centenas de visitantes; mais recentemente, a Vale resolveu restaurar a imponente estação ferroviária da localidade – que também estava em ruínas, depois de desativada.
Itapina abriga ainda uma histórica igreja matriz (Nossa Senhora da Conceição), um pequeno museu contando a história da localidade e um conjunto arquitetônico que lembra os colonizadores que ali se estabeleceram no começo dos anos 1900 – italianos, alemães , turcos e libaneses, entre outros.
No cemitério de Itapina estão sepultados dois filhos ilustres: o ex-senador Moacyr Dalla, que foi presidente do Congresso Nacional e figura de grande importância no restabelecimento da Democracia no Brasil; e o ex-prefeito de Colatina por dois mandatos, o médico Dilo Binda.
FOTOS: capixabadagema.com.br