Os dados consolidados do Observatório da Segurança Pública, que trabalha as estatísticas unidas do Ciodes e da Polícia Civil, apontam ligeira alteração em relação ao disponibilizado online (um dia de atraso), mesmo assim as autoridades estaduais podem comemorar o ano de 2023 como o de menor número de homicídios do Espírito Santo desde que começou a série histórica, em 1996.
Foram 978 homicídios no ano findo contra 1007 em 2022, uma redução de 2,9%, apesar da sensação de insegurança ter ficado latente pela atuação de organizações ligadas ao tráfico nas regiões periféricas – este ainda sendo um desafio para quem comanda o setor.
O índice do Espírito Santo é de 25,5 homicídios por 100 mil habitantes (considerando a população de 3.833.712 do censo de 2022). No dia 21 de dezembro o Ministério da Justiça e Segurança Pública comemorava uma redução de 5,7% nas letalidades em 2023 em relação ao mesmo período de 2022. A se confirmarem as projeções, o Brasil fecha o ano com 19,8 mortes letais por grupos de 100 mil habitantes.
ESTIMATIVA
Naquela ocasião, segundo publicado pela Agência Brasil, o ministro Flávio Dino, que deixará o governo para assumir uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) agora em janeiro, estimou que o número de assassinatos, incluindo feminicídios, registrados ao longo de 2023, deverá ser quase 6% menor que o total de 2022.
“Temos uma tendência, quase uma confirmação, de redução da ordem de quase 6% [5,7%] dos chamados crimes violentos letais intencionais”, declarou Dino ao apresentar um balanço, preliminar, das ações que o ministério desempenhou no ano.
“Em 2021, tivemos 42.721 crimes violentos letais intencionais. Em 2022, foram 42.620. Já para este ano (2023), nossa projeção mais pessimista é que [o total] chegue a, no máximo, 40.173 casos”, detalhou Dino, naquela ocasião.
NORTE
As regiões Noroeste e Norte do Estado, entretanto, destoam do resultado geral apresentando acentuado aumento da violência. Enquanto os números caíram nas regiões Metropolitana (-12,6%), Sul (-15,6%) e Serrana (-1,8%), tiveram expressivos aumentos no Norte (13,17%) e Noroeste (27,4%). O interior do Estado hoje está mais violento do que a Região Metropolitana, representando 52% dos homicídios no ano que se findou.
No Norte do Estado, os piores índices são os de Jaguaré (28,6%), Linhares (26,3%), Pedro Canário (25%), Aracruz (23,5%) e Sooretama (19%), que é uma espécie de satélite de Linhares, da qual se separa, efetivamente, por apenas 10 quilômetros, considerando área urbana.
Sooretama viveu, entre agosto e setembro, o drama do desaparecimento de três adolescentes sem envolvimento com o crime, cujos corpos foram encontrados em covas rasas. Foram sequestrados e mortos por traficantes no bairro Sayonara como vingança contra um ataque de traficantes rivais de bairro vizinho.
Devido à presença ostensiva da polícia no período de buscas pelos meninos, que resultou na prisão dos envolvidos (um deles fugiu e foi morto num bairro de Nova Venécia), o município passou 90 dias sem homicídios, mas disparou no último trimestre, fechando o ano com recorde 25 homicídios em 2023. Tomando por base o censo de 2022 do IBGE, um índice de 94,3 homicídios para grupos de 100 mil habitantes.
Para se ter uma ideia do que significa o índice de Sooretama, a 150 quilômetros de Vitória, no primeiro semestre de 2023 a cidade de Jequié, no sertão da Bahia, foi considerada a mais violenta do Brasil, com 88,8 homicídios por grupos de 100 mil habitantes.
Mas o índice de Sooretama não é o pior da região e do Estado. Pedro Canário, na divisa com a Bahia, ficou pior. Com 20 homicídios, a cidade tem índice de 92,9 homicídios por 100 mil.
Vila Valério aumentou 10%, de 10 para 11, para uma população de 13.728 habitantes (80,1 homicídios por grupo de 100 mil habitantes). Reduziram os números absolutos os municípios de Ibiraçu (de 3 em 2022 para 1 em 2023), João Neiva (de 3 para 1), Rio Bananal (de 5 para 3), São Mateus (de 42 para 40) e Conceição da Barra (11 para 9).
BOM EXEMPLO
Mais uma vez, o município de Pinheiros, nova fronteira agrícola capixaba, apresenta-se em contraste com a região Noroeste, mostrando o seu terceiro menor índice de homicídios em 28 anos. Pinheiros caiu de 13 homicídios em 2022 para apenas 4 em 2023, uma queda de 69,2%.
“Se tivéssemos fechado com um homicídio a menor, seria o menor índice da história desde que os números passaram a ser acompanhados”, disse o capitão Vitor Prates, subcomandante da 19ª Companhia Independente da Polícia Militar.
Vila Pavão (que zerou em 2022 e teve 7 homicídios em 2023) e Nova Venécia (62% de aumento), que são cidades vizinhas, somaram-se a Pancas (200%), Governador Lindenberg (200%), Ecoporanga (150%), Água Doce do Norte (50%), Montanha (50%), São Domingos do Norte (50%) e Colatina (33%) com as maiores contribuições para o alto índice de homicídios no Noroeste.
Barra de São Francisco e Baixo Guandu também tiveram elevações menores (10%), enquanto São Gabriel da Palha manteve em 2023 os mesmos 13 homicídios de 2022, ainda um número alto. O Noroeste saltou de 106 no ano de 2022 para 135 em 2023.
Mucurici e Ponto Belo continuam territórios de paz. O último homicídio em Mucurici foi em 13 de janeiro de 2022, quando a cidade já estava há cinco anos sem essa ocorrência. Já Ponto Belo está perto de completar sete anos sem homicídios. O último foi em 25 de março de 2017. Outro município que zerou os homicídios mais uma vez foi Marilândia, vizinha de Colatina.
No Noroeste, reduziram números absolutos de homicídios os municípios de Pinheiros (de 13 em 2022 para 4 em 2023) e Águia Branca (de 2 para 1). Ficaram estáveis, além de São Gabriel da Palha, os municípios de Boa Esperança (4) e Mantenópolis (5).
RECORDE HISTÓRICO
De acordo com dados do Observatório de Segurança Pública, que monitora indicadores prioritários, o Espírito Santo teve em 2023 o menor número de homicídios da série histórica, que começa em 1996.
Naquele ano, quando a população capixaba era 25% menor do que hoje, o Estado registrou 1.199 homicídios. Os números finais de 2023 apontam 971 homicídios para uma população de quase 4 milhões de habitantes.
Desde quando começou a série histórica, o Estado teve aumento dos homicídios até o pico do ano 2009, quando houve 2.034 mortes criminosas – entre 1998 e 2000 houve ligeira queda de 1690 para 1449 homicídios (período em que estava no auge o programa chamado Pro-Pas, do governo de José Ignácio Ferreira).
Nos anos seguintes (dois anos finais de José Ignácio), a violência voltou a crescer e explodiu em 2009 (durante o governo de Paulo Hartung, que começou em 2003). Depois, entrou em queda para menos da metade em 2023, com um pico de 1182 no ano 2016 para 1.407 homicídios no ano de 2017 (no novo governo de Hartung), quando ocorreu a greve da Polícia Militar do Espírito Santo no mês de fevereiro, com assassinatos em série em todo o Estado e a população presa dentro de casa.
Antes de 2023, o menor índice da série histórica havia sido em 2019 com 987 homicídios. Nos anos de 2020 houve elevação para 1.107, mas os números voltaram a cair nos anos seguintes até atingir a marca histórica de 2023, sobre a qual o governador Renato Casagrande vai falar numa entrevista coletiva nesta terça-feira, dia 2, às 10 horas, no Palácio Anchieta.
Anteriormente, Casagrande governou o Espírito Santo entre 2011 e 2014, e foi eleito para governar o Estado a partir de 2019, se reelegendo para terceiro mandato (o segundo consecutivo) a partir de 2023 até 2026.
Na entrevista, estarão presentes também o secretário de Economia e Planejamento, Álvaro Duboc, coordenador do Programa Estado Presente; o secretário de Segurança Pública e Defesa Social, coronel Alexandre Ramalho; o comandante geral da Polícia Militar, coronel Douglas Caus; o comandante geral do Corpo de Bombeiros, coronel Alexandre Cerqueira; o delgado geral da Polícia Civil, José Darcy Arruda; e o perigo-geral da Polícia Civil, Carlos Alberto Dal Cin.
Na entrevista, o governador e sua equipe deverão trazer mais detalhamentos do mapa do crime no Espírito Santo, bem como projetar ações para o enfrentando à migração dos homicídios para o interior, especialmente no Norte e Noroeste do Estado. Por coincidência, a Bahia teve um aumento significativo na violência e essas duas regiões capixabas fazem divisa com o Estado vizinho.
Por enquanto, já se pode dizer que pretos e pardos representam 59,8% das vítimas de homicídios no Estado. E que, para cada 1 mulher assassinada, morrem outros 9 homens. Na faixa entre 16 e 26 anos de idade estão 24% das vítimas de homicídios no Estado. Arma de fogo representa 76% dos instrumentos para essas mortes.
Domingo é o dia em que mais se mata. Terça-feira é o de menor índice. Março foi o mês em que mais morreram vítimas de homicídios no Espírito Santo em 2023, agosto foi o menor.
A menor idade de vítima registrada em 2023 foi de 13 anos e a maior idade foi 84 anos. Chama a atenção o número de vítimas com 15 anos de idade: 11 assassinados.
FONTE: (José Caldas da Costa, da Redação – tribunanorteleste.com.br)
NOTA DA REDAÇÃO: o texto inicial dessa reportagem apresentou estatísticas disponíveis online no Observatório da Segurança Pública. Porém, com o delay de um dia. Com a consolidação das estatísticas, a que o jornalismo da Tribuna Norte-Leste teve acesso, houve aumento de 7 homicídios no total do Estado.