Uma mulher muito religiosa, simples, mas determinada em alcançar seus objetivos. Assim pode ser definida dona Marina Ramalho Santana, que foi sepultada ontem em Baixo Guandu e escreveu uma biografia sobre o padre Alonso Leite, publicada em livro no começo dos anos 2000.
Dona Marina faleceu de causas naturais aos 89 anos, sendo velada no salão da Candelabro e sepultada ontem no cemitério de Baixo Guandu. Nascida em Laranja da Terra, ela foi interna do Lar Santa Terezinha, onde conviveu de perto com o padre Alonso Leite, que fez história em Baixo Guandu e faleceu em 26 de setembro de 1991.
Casou-se em Baixo Guandu com Antônio Santana, com quem teve os filhos Terezinha, Antônio Paulo, Alonso José, Joana D’arc, Roberto Carlos , Simone e Francisco. Era viúva e deixou netos e bisnetos, além de uma enorme saudade a todos aqueles que tinham grande carinho por ela.
Sonho realizado
Um dos sonhos de dona Marina Ramalho Santana era publicar um livro sobre a vida do padre Alonso Leite. Durante anos ela escreveu à mão, com dedicação, a trajetória do padre desde o nascimento no Ceará, até o falecimento em Baixo Guandu em 1991, cidade onde exerceu durante décadas sua vida pastoral.
No livro simples, mas feito com muito amor e carinho, dona Marina Ramalho Santana contou detalhes muito interessantes da vida do padre Alonso, tudo feito por quem conviveu de perto por décadas com o religioso.
O livro de dona Marina foi, na realidade, a primeira biografia do padre Alonso Leite. Posteriormente outro guanduense, Celso Kehler, escreveu e transformou em livro uma biografia mais extensa , “Encontro com Padre Alonso”, lançada mais recentemente.
Numa entrevista concedida ao próprio portal “Encontro com o Padre Alonso”, dona Marina Ramalho Santana revelou que escreveu, numa tarde de sábado, em parceria com Joaquim Aniceto, os versos sobre o religioso, que transcrevemos abaixo:
12/10/1991 – Baixo Guandu – Marina Ramalho Santana – Saudade do Monsenhor
(Quem conta sobre os versos dedicados à memória de Padre Alonso é Dona Marina. Ela foi uma das muitas ex-internas do orfanato Lar Santa Terezinha das Irmãs Milicianas de Cristo em Baixo Guandu.)
Naquela tardinha de sábado Seu Joaquim Aniceto chegou no portão da minha casinha branca de janelas e portas de cor azul no alto do morro.
– Dona Marina, vamos escrever alguma coisa sobre o padre Alonso? – perguntou Seu Joaquim
– Vamos sim, Seu Joaquim!
Assim começamos versar, ainda muito tristes, com a perda do nosso querido Monsenhor Alonso no dia 26 de setembro de 1991.
Saudade do Monsenhor
No dia vinte seis de setembro (Aniceto)
Baixo Guandu emudeceu.
A Igreja cobriu de luto,
Monsenhor Alonso morreu.
Uma vida tão preciosa (Marina)
Que a morte carregou.
Levou pra última morada
O querido monsenhor.
Foi embora o monsenhor (Marina)
Amigo da criançada.
Quantas crianças carentes
Pelas suas mãos foi amparada.
O nome do monsenhor (Marina)
Ficou em nossa memória
E sempre será lembrado
Nos livros da nossa história.
O monsenhor não morreu. (Aniceto)
Ele passou para outra vida.
Com amor que Deus lhe deu
Sua missão foi cumprida.
Vai com Deus monsenhor (Aniceto)
Bom Jesus está chamando,
Os anjinhos lá no céu
Com flores lhe esperando.
Foi embora o monsenhor (Marina)
Deixando tanta saudade
E foi viver juntinho
Com Jesus na Eternidade.
Depois desses versos, em dupla, fomos compondo outros. Um começava e o outro ia completando os versinhos.
Peço a Deus inspiração
Para rimar estes versinhos
Extraídos do coração
Com todo amor e carinho.
Não tenho palavras bonitas
Para escrever e falar,
Mas quero que acredite
Na história que vou contar.
No ano de quarenta e quatro
Em Baixo Guandu ele chegou
Um jovem honesto e pacato
Um incansável pregador.
Sua vida dá um romance
Pelo amor que nos demonstrou
O querido Padre Alonso
Que hoje é monsenhor.
O Espírito Santo se orgulhou
Com esse sacerdote inteligente.
Foi o Estado do Ceará
Quem nos deu este presente.
Mostrou todo o carinho
Ao povo de nossa cidade,
Marchando sempre juntinho
Com nossa comunidade.
Sempre com aquele carinho
Acalmava um sofredor.
Sempre com aquele sorriso
Acalmava sua dor.
Na sua dura jornada
Não encontrou dificuldade.
Protetor da criançada
Com carinho e bondade.
A imagem do monsenhor
Nunca será esquecida.
Sempre peço ao Criador
Que lhe dê uma longa vida.
É uma homenagem que faço
Ao querido monsenhor.
Também peço sua bênção
Com todo respeito e amor.
Entrevista com Dona Marina Ramalho Santana, em 08/07/2019.