A nova rodada de tarifas de importação anunciada pelos Estados Unidos — prevista para entrar em vigor na próxima sexta-feira, dia 1º de agosto — deve atingir em cheio a economia de diversos estados brasileiros, com impacto potencial superior a R$ 19 bilhões, de acordo com um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) com base em dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). A medida, considerada agressiva e protecionista pela entidade industrial, pode afetar principalmente regiões com forte dependência comercial do mercado norte-americano.
Entre os três estados que se destacam pelo nível de exposição à nova guerra tarifária imposta pelos Estados Unidos estão Ceará, Espírito Santo e Paraíba, que concentram entre 20% e 45% de suas exportações para o mercado norte-americano. Outros 11 estados têm entre 10% e 20% das vendas externas direcionadas aos Estados Unidos.
“A imposição do expressivo e injustificável aumento das tarifas americanas traz impactos significativos para a economia nacional, penalizando setores produtivos estratégicos e comprometendo a competitividade das exportações brasileiras”, afirma o presidente da CNI, Ricardo Alban.
Prejuízo por estado
– Ceará
Com 44,9% de suas exportações direcionadas aos Estados Unidos em 2024, o Ceará lidera a lista dos estados mais dependentes do mercado americano. A maior parte vem da indústria de transformação, com destaque para o setor de metalurgia, que representou US$ 441,3 milhões em vendas. Com a nova tarifa de 50%, o prejuízo estimado para o estado é de R$ 190 milhões.
– Espírito Santo
O Espírito Santo exportou US$ 3,1 bilhões para os EUA este ano, 28,6% do total vendido ao exterior. A indústria capixaba é fortemente impactada, com destaque para metalurgia (US$ 1,14 bilhão), minerais não metálicos (US$ 680 milhões) e celulose e papel (US$ 559 milhões). As perdas com o tarifaço podem chegar a R$ 605 milhões.
– Paraíba
Na Paraíba, os Estados Unidos foram o segundo maior parceiro comercial, com US$ 35,6 milhões em exportações (21,6% do total). A indústria de alimentos lidera, respondendo por 85% das vendas. O impacto financeiro estimado para o estado é de R$ 101 milhões.
– São Paulo
Maior exportador do país, São Paulo destinou US$ 13,5 bilhões aos Estados Unidos em 2024, cerca de 19% do total. Com 92% das vendas oriundas da indústria de transformação, o estado poderá sofrer perdas superiores a R$ 4,4 bilhões, o que representa 0,13% do PIB paulista.
Impacto é maior em volume no Sul e Sudeste
Embora alguns estados do Norte e Nordeste sejam mais dependentes dos Estados Unidos, o peso financeiro absoluto das perdas recai sobre as regiões Sul e Sudeste, que concentram maior volume de exportações e setores industriais mais sensíveis às tarifas.
– Rio Grande do Sul
Com 8,4% das exportações direcionadas ao mercado norte-americano (US$ 1,8 bilhão), o estado poderá ter perda de R$ 1,91 bilhão no PIB. Produtos de metal, fumo e calçados lideram a pauta.
– Paraná
As exportações paranaenses ao mercado americano somaram US$ 1,5 bilhão, com destaque para madeira, alimentos e máquinas. As perdas estimadas com o tarifaço chegam a R$ 1,91 bilhão, o que comprometeria 0,27% do PIB estadual.
– Santa Catarina
Apesar de menor em volume, Santa Catarina pode ter a segunda maior retração proporcional do PIB, com queda de 0,31% e prejuízo de R$ 1,7 bilhão. A indústria de transformação representa 99% das vendas aos Estados Unidos, com destaque para madeira, automóveis e equipamentos elétricos.
– Minas Gerais
Com US$ 4,6 bilhões exportados aos Estados Unidos em 2024 (3º maior destino), Minas pode perder R$ 1,6 bilhão, impactando 0,15% do PIB. O estado vende principalmente produtos metalúrgicos e alimentos.
Amazonas e Pará também sentirão efeitos
O Amazonas, fortemente ancorado no Polo Industrial de Manaus, poderá perder R$ 1,1 bilhão em valor adicionado à economia, com queda de 0,67% do PIB, o maior impacto proporcional entre os estados.
O Pará também entra na lista dos mais afetados, com perdas estimadas em R$ 973 milhões, sobretudo na área de metalurgia e produtos químicos.
No Centro-Oeste, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul devem acumular perdas de R$ 1,9 bilhão. Já no Nordeste, a Bahia (R$ 404 milhões), Pernambuco (R$ 377 milhões) e o próprio Ceará estão entre os mais afetados da região.
Perdas afetam outros estados
Cinco estados — Roraima, Sergipe, Acre, Piauí e Amapá — terão impacto financeiro mais discreto, com perdas inferiores a R$ 40 milhões cada. Roraima, por exemplo, depende apenas 0,3% de suas exportações do mercado americano. Ainda assim, somando todos os estados com menor exposição, as perdas superam R$ 1,87 bilhão, mostrando que o tarifaço terá repercussões amplas e não concentradas.
Desafio
O aumento das tarifas expõe a vulnerabilidade da pauta exportadora de alguns estados e acende um alerta sobre a necessidade de diversificação de mercados e produtos, segundo a CNI. Além disso, também pressiona o governo federal a buscar acordos comerciais mais sólidos para evitar o acirramento de medidas protecionistas.
Incertezas
Os últimos dias foram de muita incerteza sobre o anunciado tarifaço de 50% dos produtos brasileiros que são exportados aos Estados Unidos.
As últimas informações dão conta de que produtos como o café, a manga e o suco de laranja poderão ficar de fora da taxação, bem como o aço produzido no Brasil e os aviões da Embraer.
Tudo, porém, no terreno da especulação. Até amanhã (31/8) algumas decisões importantes devem ser tomadas.
Fonte: infomoney.com.br / Da Redação
Publicado em 30/07/2025