O Brasil acompanha consternado o drama vivido pela população do Rio Grande do Sul, que desde a semana passada vive a maior enchente de sua história, com registro até o momento de 88 mortos e 135 desaparecidos e estado de calamidade pública já decretado e reconhecido pelo Governo Federal.
Mas o Espírito Santo viveu, proporcionalmente, uma situação idêntica em 2013, quando o Estado inteiro foi devastado por um período avassalador de chuva, no mês de dezembro, quando 29 pessoas morreram e dezenas ficaram desaparecidas em consequência dos temporais que duraram cerca de 15 dias.
Onze anos depois da tragédia ambiental capixaba, agora os gaúchos vivem situação parecida, num drama que parece não ter fim. E os serviços de meteorologia apontam que, depois de uma trégua de dois dias, os temporais voltam a castigar o Rio Grande do Sul a partir de hoje, com precipitações em torno de mais 200mm, o que pode agravar ainda mais a situação por lá.
Em Baixo Guandu
Relembrando 2013, Baixo Guandu foi um dos municípios mais afetados por aquela tragédia envolvendo temporais que insistiram em cair , a partir do começo de dezembro, se estendendo até o Natal.
Em Baixo Guandu aconteceu uma das maiores tragédias do Estado naquele período difícil: 4 pessoas da família Cleto foram soterrados no córrego Dois Irmãos. Duas destas pessoas, entre elas uma criança de três anos, nunca foram encontrados. Em Baixo Guandu houve ainda uma quinta vítima fatal em 2013.
O portal Terra fez o seguinte registro em 2013, em entrevista do prefeito da época, Neto Barros:
De acordo com Barros, houve alagamentos em vários bairros. “Somos banhados pelo rio Doce, é o primeiro município na divisa com Minas Gerais. Temos também o Guandu. Esses dois rios encheram muito, passaram de 5 metros”, disse. Segundo o prefeito, existem distritos completamente ilhados. Ele contou que as cenas vistas são fortes: “O que era rio virou mar, o que era córrego virou rio. O pessoal mais idoso, que está há muito tempo na roça, está muito assustado. Muita gente perdendo as coisas. Onde a água nunca chegou nem na soleira das casas, ela passa no telhado.” O prefeito lembrou que a última grande cheia o cidade ocorreu em 1979. “Foi quando choveu 39 dias direto. A chuva desabrigou mineiros, derrubou a ponte mauá, a principal de Baixo Guandu. De lá pra cá tinha uma chuva ou outra, mas essa de 2013 foi a maior de todos os tempos. A de 79 fez encher o rio Doce”, recordou.
Neto Barros, então um jovem prefeito com 36 anos, precisou de muito esforço e dedicação para vencer aquele período de graves dificuldades. Uma das primeiras providências foi restaurar o tráfego de veículos para os 4 distritos do interior, uma vez que estradas e pontes praticamente acabaram. Aos poucos, Baixo Guandu retornou à vida normal e os 8 anos da gestão de Neto Barros (até 2020) trouxeram de volta a esperança e a fibra da população guanduense.
Baixo Guandu viveu um Natal em 2013, totalmente atípico: no dia 24 de dezembro, o comércio sequer conseguiu funcionar, com a cidade vivendo um clima de medo e angústia pela chuva torrencial que insistia em cair.
De 5 a 24 de dezembro de 2013 choveu 700mm em Baixo Guandu, uma quantidade extraordinária para um município onde a média anual de chuva é de 915mm. Ou seja, em 15 dias choveu 80% do que era esperado para o mês inteiro.
Cenas do resgate de pessoas ilhadas em Baixo Guandu, na grande enchente de 2013: