Por José Caldas da Costa
A reportagem da tribunanorteleste.com.br conheceu de perto a nova fronteira agrícola do Espírito Santo e que promete se expandir ainda mais com a iminente criação do Polo de Agricultura Irrigada do Norte e Noroeste Capixaba.
Já são mais de 2 mil hectares cultivados com soja em pelo menos quatro propriedades nos municípios de Pinheiros, que foi pioneiro na experiência, e em Montanha, onde os proprietários utilizam tecnologia 100% irrigada em face dos mais baixos índices pluviométricos do Estado.
Dois especialistas da Embrapa — Lineu Neiva, maior autoridade brasileira em agricultura irrigada, e José Salvador Foloni, da Embrapa Soja, de Londrina (PR) — elogiaram o nível de tecnificação da agricultura do Extremo Norte capixaba e fizeram previsões muito otimistas sobre a produção de grãos na região — além da soja, está-se produzindo também trigo e milho em consórcio.
A região já tem uma grande performance na produção de mamão e café conilon, cada vez mais rompendo com o ciclo da monoecononia pecuária extensiva, embora ela ainda esteja muito presente, em especial em Mucurici, Ponto Belo, Montanha e Pedro Canário.
O jornalista gaúcho Geraldo Hasse, que já militou na imprensa capixaba, escreveu um livreto em que chama a soja de “A Rainha da Agricultura — A História da Soja no Brasil”. Nele demonstra que a rainha chega ao Espírito Santo depois de 140 anos em que a primeira semente entrou no Brasil.
Veja essa síntese cronológica da história da soja no Brasil:
1882 — Registro do primeiro plantio na Bahia;
1889 — Primeiro artigo técnico no Instituto Agronômico de Campinas, SP;
1900 — Plantios experimentais no Rio Grande do Sul;
1908 — Cultivo doméstico por imigrantes japoneses no interior paulista
1914 — E. C. Craig ensina soja em Porto Alegre 1921 — Pastor Albert Lehenbauer distribui sementes a colonos de Santa Rosa, RS;
1923 — Henrique Lõbbe inicia teste de variedades americanas em S. Simão, SP;
1930 — Czeslaw Biezanko ensina o cultivo e o uso culinário no noroeste gaúcho;
1934 — Atriz Patricia Gaivão traz sementes da China para o ministro Fernando Costa;
1935 — Nenne Abdo Neme inicia experimentos no Agronômico de Campinas;
1938 — Frederico Ortmann faz a primeira exportação do Rio Grande do Sul para a Alemanha;
1941 — A soja entra na estatística agrícola gaúcha;
1945 — A soja entra na estatística agrícola paulista;
1948 — Swift fornenta o plantio no interior paulista para enriquecer o óleo de algodão Patroa;
1950 — José Gomes da Silva inicia a Campanha da Soja no Estado de São Paulo, introduzindo novas variedades norte-americanas;
1951 — Francisco de Jesus Vernetti começa a pesquisar soja no Ipeas, em Pelotas, RS; Incobrasa inaugura fábrica em Gravataí, RS, e lança óleo Santa Rosa, com tecnologia trazida por chineses fugitivos da revolução comunista de Mao Tse Tung;
1952 — Sorvi produz óleo de soja em Pelotas;
1955 — Chineses fundam 1001 cm Santa Rosa; soja é plantada para recuperar cafezais geados no Paraná;
1957 — Merlin lança óleo em lata em Porto Alegre;
1958 — Samrig inaugura fábrica em Esteio, RS, e lança óleo e margarina Primor; Shiro Miyasaka descobre no vale do Paraíba variedade de soja pouco sensível ao fotoperíodo;
1962 — Sadi Pilau monta fábrica em Giruá, RS;
1963 — Universidade Federal de Viçosa, MG, começa a estudar variedades para o cerrado;
1966 — É lançada na I Festa Nacional da Soja a primeira grande variedade brasileira, a Santa Rosa, fruto de cruzamento de linhagens norte-americanas;
1967 — Banco do Brasil financia no interior gaúcho a Operação Tatu, marco inicial da dobradinha trigo-soja; I Festa da Soja em São Joaquim da Barra, SP;
1968 — Romeu Kiihl volta dos Estados Unidos apôs estudar a capacidade da soja de se adaptar a diversas latitudes;
1969 — Lançamento das variedades Mineira e Viçoja pela UFV;
1970 — A soja começa a ser cultivada no Mato Grosso (do Sul) e penetra no cerrado de Goiás;
1971 — Olvebra começa a operar após a fusão de quatro fábricas gaúchas, entre elas a lgol; constituída a Comissão Nacional de Pesquisa da Soja no Ministério da Agricultura, responsável pelo lançamento das variedades de sementes BR;
1972 — Cevai começa a operar em Gaspar, SC;
1973 — Inauguração de fábricas da Anderson Clayton, Cargill e Irmãos Pereira em Ponta Grossa, PR;
1973 — Boom dos preços da soja no mercado internacional;
1974 — Colonos gaúchos fretam jato para conhecer a bolsa de Chicago;
1980 — Soja estende fronteira agrícola ao cerrado da Bahia;
1981 — Lançamento da variedade FT-Cristalina, própria para o cerrado;
1985 — Início do processo de transferência de indústrias esmagadoras de soja para o Centro-Oeste;
1990 — Penetração da soja no Maranhão e Piauí;
1994 — Recorde nacional de produção, com mais de 25 milhões de toneladas;
1995 — A capacidade instalada da indústria de processamento de soja atinge 116 mil toneladas por dia; o negócio da soja representa US$ 7,5 bilhões — mais de 1% do Produto Interno Bruto do Brasil;
1996 — O governo federal assume investimentos em ferrovias e hidrovias para consolidar as fronteiras agrícolas do Centro-Oeste;
1997 — Agricultores gaúchos começam a plantar soja transgênica comprada ilegalmente na Argentina;
1998 — Grupo Bunge assume o controle da Cevai 2000 — Grupo Monsanto lança comercialmente a soja transgênica;
2004 — 0 Brasil torna-se o maior exportador mundial de soja e derivados;
2005 — É criada a Comissão Nacional de Biossegurança;
2008 — O Brasil produz mais de 60 milhões de toneladas de soja em 21,3 milhões de hectares.
De acordo com a Conab — Companhia Nacional de Abastecimento, a produção de soja no país na safra 2022/23 é de um novo recorde, estimada em 154,6 milhões de toneladas em 43,2 milhões de hectares.
*José Caldas da Costa é diretor do portal TNL, com quase 50 anos de experiência, e participou na última semana da oficina de criação do Polo de Agricultura lrrigada, realizada em Pinheiros, e também da Pinheiros Agroshow.