Começou no final de agosto, na Fazenda Esplanada, em Montanha, no Extremo Norte do Estado, a primeira colheita de trigo da história do município. Com isso, o cultivo do grão, introduzido na região pelos irmãos Arthur e Lucas Sanders Orletti, começa a se consolidar nos tabuleiros do Norte capixaba. Os dois irmãos começaram a plantar soja e, depois, trigo em Pinheiros — os municípios são vizinhos. De acordo com registros de 2021, a propriedade de Arthur possui um diferencial: o agronegócio faz parte da trajetória da família, com o negócio passando de pai para filho.
Nesse contexto, e com foco na produção de grãos e alimentos, a fazenda integra diversos tipos de culturas como feijão, milho, cana-de-açúcar, mamão, café conilon, pimenta, abóbora, bovinocultura e, agora, o trigo. “Essa diversificação é uma forma de diluirmos os riscos dentro da nossa propriedade. Afinal, quando uma cultura está exposta a adversidades, provavelmente as outras estarão em alta. Esse é um dos meios de transformarmos a propriedade em uma empresa rural”, disse Orletti à coluna Agro Business, ds Folha Vitória.
Com o profissionalismo em mente, Arthur descobriu o potencial da cultura de trigo no Espírito Santo por meio de contato com profissionais de qualificação nacional.
“Por meio de informações da Embrapa, descobri que havia viabilidade de produção do trigo no clima do cerrado. Em relação à algumas regiões do Espírito Santo, esse não é um clima tão diferente. E esse conhecimento acendeu a luzinha na minha cabeça.”
A partir disso, e buscando otimizar a sua empresa rural, o grande atrativo dessa nova cultura a ser explorada era o baixo investimento inicial e o grande potencial de lucro. “Nosso estado é um grande consumidor de trigo, e boa parte é importada. Assim, por meio de baixos investimentos, nossa primeira área destinada à essa cultura operou com boa produtividade, fechando a fase experimental já com lucro de 100% em relação ao valor investido.”
“Além dos resultados em si, a cultura ainda encheu meus olhos pelo potencial de mercado e pela venda direta para a indústria capixaba, sem a necessidade de atravessadores”, ressaltou.
Segundo Arthur, o trigo ainda possui um diferencial: ele aumenta a produtividade das lavouras subsequentes à sua produção. “É um cereal que ao longo do cultivo produz muita palha e que possui a capacidade de arejar o solo. Essas propriedades aumentaram em cerca de 30% os resultados das culturas plantadas após a colheita do trigo na minha propriedade.”
Montanha
A iniciativa em Montanha é do produtor Nilson Alves, que até há alguns anos tinha praticamente dedicação exclusiva à pecuária, mas, junto com o filho Vitor Alves, médico veterinário, resolveu inovar e fazer importantes mudanças em seu portfólio.
Depois da experiência dos irmãos Artur e Lucas Orletti Sanders, em Pinheiros, houve intercâmbio de experiências, e os Alves resolveram também fazer o teste com a soja, obtendo excelente produtividade em 300 hectares plantados. Neste ano, mais uma inovação, com a utilização de sementes resistentes à seca, desenvolvidas ao longo de 40 anos pela Embrapa, e o plantio de trigo.
“Agora, vamos colher o trigo e plantar soja de novo”, disse Nilson Alves ao receber a visita do deputado estadual Mazinho dos Anjos há pouco mais de uma semana, quando foi realizada em Montanha a reunião da Frente Parlamentar do Desenvolvimento Econômico e Social do Noroeste e Extremo Norte do Espírito Santo.
Foram plantados 150 hectares de trigo. A produção já está toda vendida para o Moinho Buaiz, de Vitória, cujos representantes visitaram a fazenda no início desta semana. Nilson Alves estima que, ao final, sejam colhidos de 70 a 80 sacos por hectare. Novos campos de soja já estão sendo plantados. Segundo Vitor, eles vão dobrar a aposta: “No ano passado, plantamos 300 hectares, e nesta safra vamos plantar 600 hectares”.
E o gado? A família não abandonou a tradição, só mudou a técnica. O gado, todo destinado a corte, está sendo criado confinado. São cerca de 4 mil cabeças. Essa técnica de manejo, segundo os especialistas, comporta várias vantagens, como aumento da eficiência produtiva, abate em tempo reduzido, maior ganho de peso em menor tempo, comparado aos animais criados em pastos pelo método extensivo.
O agronegócio do Noroeste e Norte do Espírito Santo tende a sofrer um grande impulso daqui para a frente com a implantação do Polo de Agricultura Irrigada da área da Sudene. No dia 29 de agosto, a diretora e a coordenadora de irrigação do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional estiveram numa reunião de trabalho com o vice-governador e secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ricardo Ferraço, no Palácio da Fonte Grande, para expor detalhes do projeto. Participar também áreas técnicas do Governo e representantes do setor produtivo.
FONTE: José Caldas da Costa – jornalista do www.tribunanorteleste.com.br