Baixo Guandu vive desde setembro de 2020, quando se iniciaram os pagamentos das indenizações do Novel, relacionadas ao Caso Samarco, um período de forte incremento da atividade econômica.
Em apenas 3 anos e 3 meses, segundo números oficiais da Fundação Renova, 9.500 pessoas/famílias/empresas e agricultores receberam do Sistema Simplificado de Indenizações (Novel) recursos que somam R$ 960 milhões, dinheiro que provocou uma forte mudança no perfil econômico do município.
“Todo este dinheiro injetado numa cidade de 30 mil habitantes, realmente provoca uma forte mudança no cotidiano das pessoas, com reflexos muito positivos na economia com tanto dinheiro circulando”, avaliou esta semana o economista José Alberto Roggi, que acompanha este fenômeno reparatório não só em Baixo Guandu, mas em toda bacia do rio Doce.
Para o economista, Baixo Guandu, no contexto das indenizações do Novel, do Caso Samarco, teve ainda o reforço do dinheiro que foi injetado na cidade vizinha de Aimorés, com R$ 750 milhões pagos a aproximadamente 7.500 pessoas.
“Baixo Guandu e Aimorés, pelo fato de se situarem a apenas 5 quilômetros de distância, acabam com as economias também muito próximas. Os R$ 1,7 bilhão pagos a cerca de 17 mil atingidos, nas duas cidades, apenas pelo Novel, mudaram realmente o perfil econômico local”, diz o economista Roggi.
O Sistema Simplificado de Indenizações foi instituído pela Justiça Federal em sentença de julho/2020, atendendo a uma ação proposta pela advogada Richardeny Lemke, representando a Comissão de Atingidos do município. O Novel acabou se espalhando, também por determinação judicial, a 45 municípios e 55 localidades ao longo da bacia do rio Doce e região estuarina, pagando mais de R$ 10 bilhões a aproximadamente 100 mil atingidos pelo rompimento da barragem de Mariana, ocorrido em 2015.
O Novel acabou se transformando no meio mais eficiente Indenizatório decorrente da tragédia ambiental, porém existe em curso outras vertentes que poderão trazer uma reparação mais ampla aos atingidos.
É o caso, por exemplo, da repactuação, que deveria ter sido assinada no último dia 5 de dezembro, mas ficou adiada para 2024; do PIM, o Programa de Indenização Mediada e ainda o caso que corre na Justiça Inglesa contra a Vale e a BHP, com pedido de R$ 230 bilhões de Indenizações para cerca de 720 mil pessoas/empresas/entidades e comunidades.
Mudanças na economia
No caso específico de Baixo Guandu, que se transformou numa referência de indenizações porque saiu daqui a ação que implantou o Novel, a cidade viu desde 2020 uma forte transformação decorrente de quase R$ 1 bilhão beneficiando 9.500 pessoas.
Surgiram na cidade centenas de novos negócios, com muitos indenizados abrindo sua própria empresa (pizzaria, borracharia, hamburgueria, restaurante, bar, sorveteria, etc) e encontrando na nova atividade um excelente rendimento.
Com muito mais dinheiro circulando na economia, a construção civil teve um impulso extraordinário, com abertura de novas lojas no ramo e dificuldade até para atender à grande demanda. Neste setor, permanece a dificuldade de encontrar na cidade pedreiros e serventes disponíveis.
Outra mudança sentida em Baixo Guandu foi no trânsito de veículos. Desde 2020 a frota aumentou cerca de 60 %, obrigando a cidade a municipalizar o trânsito e dar um foco mais específico a este setor. Encontrar uma vaga de estacionamento na região central de Baixo Guandu, onde está o movimento maior no comércio, é muito difícil.
Da mesma forma, é visível na cidade a evolução da área supermercadista, com abertura de novas e modernas lojas; grandes redes de loja também voltaram os olhos para Baixo Guandu, instalando unidades aqui. A cidade ganhou também nos últimos 3 anos mais uma agência bancária e três novos postos de combustíveis.
Futuro
Para o economista José Alberto Roggi, Baixo Guandu (e outras cidades beneficiadas pelas indenizações) devem ficar atentas para o futuro, uma vez que a reparação do Caso Samarco “um dia vai ter uma conclusão e o dinheiro vai parar de entrar”.
“É preciso criar meios para a cidade se sustentar, promovendo meios de desenvolvimento com recursos locais”, destacou Roggi, que ainda vê chances da entrada de muitos recursos ao longo da bacia do rio Doce e região estuarina.
Ele cita como “chance” de reparação a ação na Inglaterra e a repactuação. Mas acrescenta: “não basta esta entrada eventual de grandes volumes de recursos. É preciso pensar no desenvolvimento a longo prazo”, conclui.
Residi em Baixo Guandu de 1967 a 1979 quando fui professor do Colegio Estadual. Tenho ótimas lembrancas desse tempo e deixei muitos amigos aí. Estive na cidade recentemente e observei que a cidade passou por grande desenvolvimento recentemente. Com certeza as indenizazões dos atingidos pelo caso Samarco contribuíram para isso.
⁸