Ao percorrer a rodovia que liga Nova Venécia a Vila Pavão, no Espírito Santo, três placas simples, mas intrigantes, chamam a atenção de viajantes e turistas. Com os dizeres “BROTE – A 20 KM”, *BROTE A 15 KM” e “BROTE A 5 KM”, elas despertam curiosidade e fome. A razão? O “brote” é o ícone da culinária pomerana no estado, e Vila Pavão é a capital desse pão tradicional, vendido diariamente em padarias, feiras e até mesmo nas casas de senhoras que mantêm viva a tradição.
O brote: um símbolo de afeto e tradição
Mais do que um alimento, o brote é parte da identidade local. Presentear alguém com um brote – seja de fubá (o convencional), banana (bananabrood) ou trigo (mijlhabrood) – já se tornou um gesto tão comum quanto presentear com panetone no Natal. O produto é tão valorizado que atrai compradores de outras cidades, como uma senhora de São Mateus que toda sexta-feira busca brotes em Vila Pavão para revender em Guriri.
“Vila Pavão tem o melhor brote do Brasil. Aqui se encontra brote todos os dias e a qualquer hora”, afirma Jorge K. Jacob, orgulhoso da tradição local.
Placas que contam histórias
Mas as placas não se limitam a indicar onde encontrar o pão pomerano. Suas cores azul e branco remetem ao mar Báltico e às areias do litoral, uma homenagem à bandeira pomerana. Além disso, uma pequena janela no topo das placas carrega um significado profundo: durante a Segunda Guerra Mundial, pomeranos – muitas vezes confundidos com nazistas – foram perseguidos no Espírito Santo e em Minas Gerais. A janela no sótão das casas servia para identificar visitantes. Se fossem inimigos, as famílias se trancavam e ficavam em silêncio.
Outro detalhe marcante são os enfeites em zigue-zague azul, conhecidos como *lambrequim*, que adornam as casas pomeranas tradicionais. Essas peças, que lembram a neve derretendo nos telhados da Europa, são verdadeiras obras de arte e podem ser apreciadas na Secretaria Municipal de Cultura.
Cultura e turismo nas rodovias
O secretário de Cultura de Vila Pavão, Gil Leandro Breger Lauvers, explica que o objetivo das placas vai além de divulgar o brote: *A nossa ideia não é só vender o nosso produto, mas provocar esse debate cultural e histórico entre os passageiros, turistas ou quem transita nessas estradas”.
A estratégia aproveita o fluxo intenso de turistas, especialmente mineiros e goianos, que passam pela cidade rumo às praias capixabas. Além do brote, os visitantes são recebidos por outra atração: a imponente igreja local, que possui a segunda maior torre do Brasil e a maior torre luterana da América Latina.
Um legado em enxaimel
A herança pomerana também está presente em uma placa maior, elaborada durante a administração do ex-prefeito Ivan Lauer, localizada na saída da cidade em direção a Barra de São Francisco. Construída em estilo *enxaimel* – técnica germânica que utiliza vigas de madeira e barro –, a estrutura é um símbolo da arquitetura trazida pelos imigrantes.
Com essas iniciativas, Vila Pavão reforça seu papel como guardiã da cultura pomerana, transformando cada placa e cada brote em uma oportunidade para celebrar história, resistência e sabor.
“Vila Pavão não tem só paisagens naturais lindas. Também temos uma história e uma cultura que merece ser debatida”, finaliza o secretário Gil.
Fonte: www.vilanoticias.com
Publicado em 26/04/2025